domingo, 14 de julho de 2013

Sobre confiança

É um problema clássico da atual sociedade. Desaprendemos a confiar. Pior, desaprendemos a ser de confiança. Mas por que?
É também característica contemporânea, os relacionamentos serem breves, as amizades rápidas, os amores esquecidos e etc. 
Toda essa "nova" face dos relacionamentos humanos não é, senão, um produto do modo que nossos antepassados viveram. Tudo contribuiu para esse nosso mundo atual. As competições que antes eram por terras, mulheres, escravos e "honra" deram lugar a competições por reconhecimento, poder de influência nos que são próximos - e quando possível, nos que são distantes - por uma posição mais elevada na sociedade de consumo, por um padrão de vida melhor... 
Isso nos moldou. Nos forjou a alma. O resultado: vê-se todos os dias, em todos os lugares. E digo: não valeu a pena.
Um dos sintomas da nossa doença do progresso é justamente esse: A escassez da confiança. Mas por que não confiamos mais uns nos outros? 
Não tenho uma resposta perfeita. Nem sei se minhas conjecturas representam alguma verdade. Mas tento responder a essa pergunta da seguinte forma: Não confiamos, porque não somos de confiança. A teatralização individual da vida pode ser vista como uma coisa boa, afinal, somos "atores no palco da vida" - frase cuja interpretação geralmente é infeliz. Essa vontade de representar um personagem ao invés de nós mesmos, levou a sociedade a aprender uma técnica que antes só era ensinada aos atores, políticos e manipuladores: a da utilização de máscaras. E o homem aprendeu rápido. Logo viu-se confeccionador de máscaras e paredes que mantivessem os outros longe e a integridade individual intocável.
O problema, é que ao mesmo tempo que se foge dos outros, se afasta de si mesmo. E o homem, vendo-se perdido em meio a tantas máscaras acaba confundindo seu verdadeiro rosto. É a verdadeira tragédia grega.
Como confiar em quem não conhece o seu reflexo? Como acreditar em quem mente pra si mesmo? Impossível. E o pior: todos somos confeccionadores de máscaras. Todos mentimos pra nós mesmos todos os dias. E nos perguntamos: "Em quem posso confiar?". Repito: não se pode confiar em ninguém sem se reconhecer no espelho.
Me parece que a solução para esse problema está em cada um. É um processo doloroso. Reaprender a se reconhecer traz conflitos. As máscaras têm vida própria. Mas somente assim, pode-se confiar em alguém, exatamente porque ganha a confiança de alguém.
Quão difícil é encontrar quem é de confiança!

Só é possível acreditar em quem é sincero!

3 comentários:

  1. A justificativa não cura.

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  2. percebo que confiança de hoje remete a idealização. a uma projeção de expectativas em cima do outro. isso de certa forma aprisiona. o que me traz a pergunta: confiar ou se de confiança é bom pra que lado da história? a pessoa deve corresponder à expectativa da outra que confiou nela algo. algo que às vezes pode não ter sido acordado entre as partes. então entendo que a confiança atinge diretamente a liberdade. outra coisa que me vem em mente sobre a confiança é que para você prever o ato de alguma pessoa, você deve conhecê-la. conhecer a ética pessoal dela, a ética que guia as suas atitudes. daí me pergunto, se não conheço nem a mim e sou capaz de tomar atitudes surpreendentes sob meu olhar, por que eu conseguiria conhecer ao outro de forma que consiga prever a atitude dele?
    acho muito complexo.

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