terça-feira, 20 de março de 2012

Corrida

O suor começa a aparecer em meu corpo, já é visível no meu rosto. A sensação provocada pela taquicardia aumenta. A cada ventilação forçada que faço para conseguir suprir as minhas células musculares do tão importante oxigênio, uma lembrança me vem à tona. Não adianta, o que passou, passou.

Ofegante, tento exalar sonoridade altiva pelas minhas cordas vocais. Falta-me o ar. Já perdi a conta de quantos quilômetros percorri. Não adianta gritar, já não podem me ouvir. Nem os dias de academia bem aproveitados foram o suficiente para me preparar para tão desesperada corrida. Já não sei quem aumenta mais: a adrenalina ou o desespero.

Era o último ônibus, depois desse, só amanhã. Amanhã já é tarde. O voo sairia de madrugada. Não deu tempo de me despedir, de pedir desculpas, de me redimir. Quando estiver em outro lugar, bem longe daqui, conseguirá me perdoar?

Deixo o buquê de flores cair no chão na tentativa de me desfazer de qualquer peso morto. Tolisse. Por mais que eu ache que minha vontade supera a realidade, eu sei que só funciona na teoria, na prática é a realidade que te esmurra contra a parede. Sempre. Cabe a mim aceitar os fatos.

Tentei ligar antes, mas não deu. O orgulho sempre falou mais alto. Só agora, no último segundo, é que fui perceber que ele, o orgulho, não era meu melhor amigo.

O que me resta é a saudade. Essa me corroerá aos poucos. Será meu tóxico que nenhum exame detectará, nenhum médico desconfiará, e nenhum fármaco será capaz de tratar. Conviverei com essa doença que eu mesmo criei: Remorso. Fará metástase em toda a minha alma.

Espero algum dia, que eu encontre a cura, ou encontrem por mim, tanto faz. Espero também, que lá onde estiver, seja capaz de viver melhor do que aqui. Seja capaz de encontrar alguém mais digno que eu. Bons ventos para nós é o que desejo. Se bem que aqui, não mais sentirei a brisa com seu cheiro, e vento melhor que esse não existe (por mais que eu insista em passar na perfumaria).

Tua pele macia fazia contraste com a aspereza do meu coração. Teu jeito maduro e sensível, bombardeava meu insólito eu. Era meu sal, meu tempero. Sou apenas insípido, inodoro e incolor. Contigo era o mais perfeito coquetel, agora não mais sou do que mera água que se encontra vazando na torneira.

Enquanto corro, lembranças vem à tona. Percebo que já é hora de jogar a toalha. Da minha desgraça, faço uma lona. Da minhas memórias, faço paus. Logo, logo já tenho um circo.

Quando parar de correr e voltar, é isso que vou fazer: virar palhaço pra minha vida resolver!

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