terça-feira, 8 de maio de 2012

A Motivação

Passeva sem pressa. Olhava as árvores vivas e verdejantes que faziam contraste com o clima percebido pelos caminhantes. Era uma manhã de inverno. O sol, que a todos agradava por esquentar as cabeças, era cálido e taciturno. De quando em vez via, ao longe, um pardal indo levar comida aos filhotes nos ninhos das árvores. Apesar de toda a singeleza e cândida doçura do ambiente, ela estava angustiada.
Era uma jovem, formosa, devia ter seus 17 ou 18 anos. Pálida como o sol do inverno e fria como o vento, andava sem rumo pelas ruas de sua cidade natal. Não conseguia formar um pensamento conciso. A poucos instantes, perdera a noção do espaço e tempo. Seu coração refletia uma agonia inexprimível e seus olhos pareciam como que mortos. Ninguém que passava por ela na rua, poderia advinhar o que precedera sua súbita mudança de humor. Ela, que era sempre alegre e brincalhona, que com seu sorriso alegrava e modificava o ambiente. Sempre fora um exemplo de menina justa e amável. Mesmo os que sentiam inveja por sua singeleza de coração, admiravam-na. Todos gostavam dela e não havia dúvida disso. Mas a uma única pessoa ela não agradava: ela mesmo.
Agora isso lhe era claro como o brilho do olhar de um bebê. Ela não se amava e de quando em vez, desejava a morte. Pensara porque deveria sofrer tal angústia, se sua vida nunca lhe trouxera perdas. Talvez fosse por isso. Quem nunca aprendeu a sofrer, nunca poderia aprender o caminho da felicidade. Mas que mundo injusto e cruel! Não poderia ela escapar de tal sentença? Não poderia lutar contra isso? E quanto mais pensava sobre o assunto, mas se desesperava.
Sua alma havia entrado em um novo universo: o interior. Isso lhe era novo, e as dúvidas e incertezas que acompanhavam-na nessa abstrata viagem, assustavam-na. Tinha medo. Tudo o que havia aprendido e estudado, todos os livros sobre o auto-conhecimento que lera e todas as conversas com professores de filosofia e teologia nunca prepararam-na para tal jornada. Era um ambiente sinistro esse, o da alma. Talvez fosse por isso que acreditava realmente que não se amava.
Já se passara da hora habitual em que costumava almoçar. A bateria de seu tocador de mp3 já se esgotara a meia-hora e nem percebera. De súbito olhou para o lado como que puxada por uma força maior. Viu um palhaço. Mas não era desses que se maqueiam como se não soubessem onde passar a tinta branca. Não, esse era diferente e percebeu que de certa forma, parecia com ela. Era infeliz. Seus pensamentos por um instante desanuviaram, e ela pode se concentrar na figura do triste palhaço. Parecia-lhe o mais infeliz dos homens e como se soubesse que estava sendo vigiado, olhou de volta para ela. Arregalaram-se o olhos e sentiu uma forte taquicardia. Este lhe forçou um sorriso e, por mais que ela o tivesse visto como um ser infeliz, enxergou naquele sorriso falso, um gesto de amizade e amor. Quando se dera por si, havia sorrido de volta. O ilustre ser mostrou-lhe uma certa placa que tinha em seu peito. Nela estava escrito: "Abraços Grátis". Entendeu prontamente o pedido mudo daquela criatura cômica. Por um instante setiu-se retraída e tímida, mas a vontade de superar sua própria angústia e a compaixão que ele lhe demonstrava era-lhe tamanha, que resolveu dar-lhe o que pedia.

Aquele gesto absurdo e incompreendido por tantos que passavam pela rua fora-lhe tão significativo, que desfez quase, senão todas as angústias que carregara desde a noite passada, quando percebera que o amor de muitos havia se esfriado, e que estava sozinha na estrada da vida. Não, não era coincidência. Aquele garoto ou homem (não sabia dizer) pintado ridiculamente e que por muitos era rejeitado, representou para ela toda a esperança de que precisava.

Enfim, encontrara o alento que pedira a Deus. Não estava sozinha nessa angústia, pois até mesmo o mais alegre dos seres é, às vezes, o mais infeliz. Mas isso não o impede de transmitir alegria. E com um simples abraço, descobrira o amor.



Abrace mais.
Lucas Vizani.


Dedico ao Bruno Vatanabe Cruz que me apresentou esse incrível mundo dos clowns e do Free Hugs. Obrigado irmão!



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