Já estava habituado a ouvir suas viagens. Eram amigos a muito tempo, e suas histórias eram sempre contadas a ele. Não que acreditasse ou desse muito crédito, mas fato era, que sentia uma admiração e uma pequena ponta de inveja pela mente de seu melhor amigo. Era uma história sobre o céu, ou melhor, do céu para nós, terráqueos. Uma história contada desde o começo do tempo e percebida por quase todos os povos antigos.
Uma possibilidade - como sempre dizia - uma ideia! Apenas isso! - E ainda bem - dizia o outro para si mesmo...
- Como assim? Quer dizer que o céu é um livro?
- Exatamente! E os astros, nuvens, e fenômenos são o alfabeto! É a linguagem escolhida pelos deuses (ou Deus) para se comunicar com os homens ou, pelo menos, é o que nossa imaginação pôde conceber!
- Sim, todos sabemos disso, que os antigos viam nos astros os seus deuses, de acordo com sua cultura, conte algo novo! - Ele riu, debochando como sempre, o que instigava o pensador a pensar ainda mais e se empolgar nas suas teorias. No fundo, ele queria realmente saber mais delas.
- Como nós, homens modernos, vemos os antigos? Não é senão, como povos primitivos que não entendiam muito de ciência e, portanto, limitados em seu saber sobre as coisas naturais? Quando olhamos para as pinturas e escritos antigos, estamos olhando com esses mesmos olhos que julgamos terem os antigos: os olhos da limitação. Vemos apenas o que nos está sendo mostrado, e a ciência e o progresso se encarregaram de imprimir isso em nossa mente. Nós perdemos nossa quarta dimensão, a dimensão da imaginação. Felizmente ela ainda ecoa na humanidade, ainda que bastante reprimida. Mas não os antigos! Esses viam também através do espelho da imaginação!
Imagine: Eles enxergavam o céu com uma simplicidade absurda, e antes de haver ciência, o que restava ao homem fazer para entender a linguagem da vida?
- A imaginação.
- Exatamente! O céu e as coisas intocáveis, eram entendidas, e não apenas explicadas, através da imaginação! Isso não é novidade também, eu sei, mas tente ser agora um homem antigo! O que vê ali no céu, onde meu dedo aponta?
- Se não me engano é Júpiter, ele foi encoberto pela lua a 4 dias.
- Eu comecei a reparar nele assim q o vi perto da lua, venho acompanhando sua órbita todos os dias que não tem nuvens. A umas 3 horas percebi um fato curioso que nunca tinha parado pra pensar: As estrelas se moveram mais rápido que ele, é lógico, já que ele está muito mais próximo da Terra que elas. Agora, olhe com os olhos antigos, como isso poderia aparecer a seus olhos?
- Parece uma estrela como qualquer outra, só que mais lenta.
- Certo, foi meio científico ainda, mas ta valendo. Não parece que ela aponta algo? Que nos dá uma direção? Só que precisamos esperar um dia inteiro para saber o caminho?
- É verdade! Poderia ter sido até mesmo, a estrela que guiou os 3 magos até belém!
- Agora você falou na minha língua! A cada dia o céu nos conta uma história diferente e contínua. É como se fosse uma história em quadrinhos, só que sai um novo capitulo todos os dias, e os quadrinhos são pontos! Pois bem, e se os astros, como eu disse antes, não fossem os deuses propriamente ditos? Afinal, são apenas bolas e pontos. Não acredito que os antigos fossem tão cegos a ponto de afirmar que os próprios astros eram os deuses, e sim, representações deles para que nós, homens, pudéssemos nos comunicar com eles. Isso faz muito sentido se vemos a tradição do corão, onde a primeira coisa que Alá criou, foi o alfabeto. Logo, aqueles pontos brilhantes, as duas bolas brilhantes, a manchas enorme que divide o céu, os aglomerados brilhantes e tantas outras coisas, foram as letras escolhidas pelos deuses para representarem a si mesmos e para contar histórias do passado, presente e futuro. Isso também vale para o Deus judaico. Olhe uma pequena história que acabei de inventar:
"Eu estava olhando a mãe lua a 4 dias e vi um ponto saindo dela, 3 dias atrás, o ponto estava em outro lugar, um pouco mais afastado Hoje, mais ainda. Nunca tinha visto isso! Parece-me que a mãe-lua pariu um filho, que brilha muito e segue um caminho mais lento, mais tortuoso. O grande Deus gerou um filho na virgem mãe-lua e um filho se nos deu! Se seguirmos sua rota não o encontraremos encarnado na humanidade?"
Esse é um dos 3 reis magos que, estudando as estrelas como sempre fazia, percebeu uma nova história curiosa, assim como eu, a 4 dias!
- Quer dizer que tudo pode ser lido nas estrelas? Isso me parece esoterismo.
- Mas não foi assim que os mitos foram criados? Olhando as estrelas? Nosso erro é nos julgarmos mais sábios que os que vieram antes. O que digo, lembre-se, é apenas uma ideia.
- Tudo bem, continue.
- O que quero dizer com tudo isso, é que perdemos uma dimensão, pois a dimensão é a nossa perspectiva do universo. Nos restam 3 dimensões (isso é uma classificação minha, obviamente): Tempo, Espaço e Memória. Perdemos a Imaginação. Nossa mente "moderna" enxerga nessas 3 remanescentes. Tudo segue uma linha suscetiva (tempo) e se coloca no visível ou experimentável (espaço) e essas experiências são alocadas em lugares acessíveis ou não do cérebro (memória). Através da imaginação, temos a criatividade, onde são criadas coisas novas que se misturam com as outras 3 dimensões. Digamos que seja nossa "porção divina". O progresso tenta aniquilar essa dimensão a todo custo, pois ela nos ajuda a nos comunicar com Deus, seja através das estrelas ou qualquer outro meio. Me diga, qual o problema em sermos como crianças? Não é delas o Reino dos Céus? E pensar que eu e você já tivemos essa dimensão!
- Pra mim não parece que você cresceu muito! - Ele riu, agora, tomado por uma inveja absurda da imaginação do amigo.
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