"Por isso, a única coisa que podes objetivar, declarar como infinita definir como infinita, definir como sua essência, é apenas a natureza do sentimento. Não tens aqui outra definição de Deus a não ser esta: Deus é o sentimento puro, ilimitado, livre. Qualquer outro Deus que estabeleceres aqui é um Deus que chega empurrado, vindo de fora do teu sentimento. O sentimento é ateu no sentido da crença ortodoxa que como tal associa a religião a um objeto exterior; o sentimento nega um Deus objetivo - ele é um Deus em si mesmo. Somente a negação do sentimento é, sob o ponto de vista do sentimento, a negação de Deus. És apenas muito covarde ou limitado para confessar com palavras o que o teu sentimento afirma em silêncio. Preso a escrúpulos vindos de fora, incapaz de compreender a grandeza do sentimento, tu te escandalizas com o ateísmo religioso do teu coração e destróis neste escândalo a unidade que tem o teu sentimento consigo mesmo no momento em que refletes um ser diverso, objetivo e assim te entregas necessariamente às velhas questões e dúvidas: se existe um Deus ou não? Questões e dúvidas que desaparecem, que se tornam mesmo impossíveis quando o sentimento é designado como sendo a essência da religião. O sentimento é o teu poder mais íntimo e ao mesmo tempo um poder distinto, independente de ti, ele está em ti e acima de ti: ele é a tua mais genuína essência, mas que te surpreende como se fosse uma outra espécie, em síntese, o teu Deus - como pretendes ainda distinguir esta tua essência em ti de um outro ser objetivo? Como podes sair do teu sentimento?
O sentimento foi salientado aqui apenas como exemplo. O mesmo se dá com qualquer outra força, capacidade, potência, realidade ou atividade - o nome não interessa - que se declarar como órgão essencial de um objeto."
Disse Feuerbach no primeiro capítulo de "A essência do cristianismo".
Aproximando dessa forma, conceitos repetidos incansavelmente ao longo dos séculos tais como: "Venha a nós o Teu reino", "Um é tudo e tudo é Um", "Deus está no interior do homem", "Imagem e semelhança", "Parte divina", "Homem divino" e etc.
Conceitos que algum dia foram proclamados pelo cristianismo e que hoje, ironicamente, costumam se encontrar fora dele.
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