- Pois bem, agora que entendes que podemos perceber de várias formas a realidade, e assim, interpretá-la de diversas formas, posso passar pra tese oficial.
- Sim, atá agora não vi novidade, eu apenas não compreendia como isso podia existir.
Era de fato, um ouvinte anestesiado pelos discursos da realidade padrão.
- Não lhe garanto que essa versão minha é inédita, não o poderia dizer. Mas de fato, a geri numa dessas meditações espontâneas. A partir dela, proponho uma estrutura para essas realidades. Imaginemo-a como um vasto plano, ou se quiserdes, como a própria terra. Nós, homens, em nossa vaidade e medo, construímos muralhas circulares, formando camadas no solo. Pense numa pedra que fora jogada num lago, as ondas se propagam formando círculos na água, esses círculos representam as muralhas. Assim se parecem as nossas percepções da realidade. A princípio, pensei apenas em três muralhas. A primeira, mais profunda, chamarei intra-realidade, a do meio, apenas realidade, e a última, hiper-realidade. Vivemos a maior parte do tempo nas duas primeiras. A área realidade, compreende à nossa lucidez e vivemo-la quando acordados. A intra-realidade se dá quando reunimos o nosso contingente de pensamento na área da primeira muralha, isso acontece no sono. Certas pessoas, conseguem acessar a terceira muralham e funcionam como exploradores da terra. A hiper-realidade, experimentam, talvez, os loucos, os sensitivos, os paranormais, os feiticeiros, os profetas... Dela não sei lhe dizer muito, percebo que apenas falar que ela existe já demanda um certo esforço. Há ainda, a possibilidade de viver NA muralha, e assim, olhar para as duas áreas e juntar percepções de ambas de uma só vez. Chamarei essas áreas de inter-realidades Por exemplo: entre o área da intra-realidade e o da realidade, encontramos o divã. Que nada mais é, que uma possibilidade de se estar entre o sono e a vigília. Entre a realidade e a hiper-realidade, podemos encontrar os ritos e os estados alterados de consciência. Há ainda, uma classe que pode estar em ambas as inter-realidades: os loucos e a meditação. Com uma diferença, a meditação acessa essas áreas com consciência.
Parou por um minuto, enquanto seu ouvinte reunia a estrutura em sua mente. Seu olhar de interesse, logo se manifestou pela sua boca. O que não sabia, era que aquele era um jovem raro. Apenas um diálogo era o suficiente para lhe abrir as portas da imaginação.
- De fato, deveras interessante essa leitura. Creio conseguir pensar em alguns detalhes a mais.
- Por favor! Comente-os!
Sua alegria logo se lhe estampou a face. Encontrara uma alma disposta a pensar.
- Os sonhos premonitórios. Ficaria ao mesmo tempo entre a primeira e a terceira muralha, como poderia ser?
- Não sabia que gostavas de preparar armadilhas! Creio não poder responder sua pergunta. De fato, os sonhos premonitórios têm essa característica.
- Foi uma pergunta retórica.
Seu rosto adquiriu aspectos de vitória. Gostava de sentir que ganhara de se seu futuro mestre, mesmo que apenas num exemplo.
- Pombos-correio! - Respondeu com graça. E gerou risos no outro. - Sério! Imagine que eles transportam mensagens da terceira muralha, enquanto estamos descansando nos terrenos da primeira. Assim, funcionariam como Hermes, transmitindo mensagens da hiper-realidade pra intra-realidade.
- Nos daremos muito bem juntos garoto! - Disse o mestre, agradecido aos céus, por terem mandando tão habilidoso mensageiro.
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