segunda-feira, 18 de abril de 2016

A fragilidade de quem não sabe quem se é


Rasga-se o peito ao meio. A força, que ora puxa pra direita, ora pra esquerda, não vem de fora. Quero sair, mas não quero. Vou e não vou. Sou a minha tese e a minha antítese. Eis o que de fato eu sei: não me conheço. Não consigo dizer de onde vem as motivações que agitam a minha cólera, não sei dizer da pessoa que acho que amo. Não sei dizer se me amo. Não sei se é possível amar sem ser amado.
Se por vezes, aquilo que condeno com os mais altos julgamentos, vem daquele que outrora amei, seja um amigo, um parente ou um amor de longa data...


Engana-se mais uma vez quem acha que os momentos de crise vêm como estímulos de fora. Há tempo: o inferno são os outros - ou melhor, o inferno é minha percepção da percepção dos outros sobre mim. O que no fim, se manifesta assim: Tudo aquilo que não é definido como eu, ou seja, o outro, não passa de uma projeção daquilo que não quero enxergar em mim mesmo.
O inferno são os outros, porque são os outros que me dizem aquilo que não quero aceitar em mim.
O inferno é esse lugar de condenação, onde os dedos apontados como tridentes afiados espetam a carne e a alma, até que o sangue escorra e me faça perceber que esse mesmo inferno existe e sempre existiu dentro de mim.


Se desejo condenar, serei condenado. E essa Lei, acima de qualquer lei humana, acima de qualquer constituição, é verdadeiramente implacável.
O Ser que não sabe quem é. Eis o estado do humano em meio a crise. Eis o guerreiro com a guarda aberta. Eis a sentinela que dorme em seu posto. O golpe é certeiro, não há bloqueio, não há defesa. O golpe que vem de dentro se manifesta como um golpe que vem do outro. É como o inferno.
Mas há também o céu. Esse, que insiste em se manter num sentimento de esperança, num lugar e num momento - ambos são a mesma coisa - caóticos, quase como um sonho...
"E que poder tem o sonho dentro do inferno?" - perguntam-se meus demônios que, quase que instantaneamente, ouvem a resposta: "Mas o que seria do inferno, se os demônios não sonhassem com o céu?"


E esse mesmo sonhar, que acorda o brasileiros num dia 18 de abril, cansados da luta interior que se manifesta como uma aparente luta contra o outro - aquele mesmo que se quer excluir do facebook, que se quer cuspir na cara, que se quer ver preso nas cadeias da corrupção - faz-nos erguer a cabeça pro que vier após uma luta perdida, ou ganha, dependendo da escolha do seu lado nessa guerra contra si mesmo.
A luta está perdida, ou ganha. Ainda há uma guerra a se guerrear.

Sonho, pois, um dia em que guerras já não farão sentido.

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