terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O amor que confunde

Amor confundido
É amor desprotegido
É confusão que cega
É pretexto que se prega
E nega, o que do coração circunda
É sentimento que abunda
O que na razão se ensurdece
Cai nas mãos como prece
E no peito padece
A dor da rejeição
O suor que gela
Esfria o fogo do anseio
E relembra o chão
Duro como coração que já foi
É uma dupla dor
A que se propõe o sonhador
Ora aquece
Ora esfria
Por não saber o seu andor
É culpa e é graça
O que vem de dentro
E o que é carcaça
Afasta e abraça
Bendiz a desgraça
De sentir novamente
O que se matou aparente
Num passado ingrato
Que se faz presente

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O duplo e a jornada do guerreiro: o paradoxo da consciência da criação

Meu inimigo se apresenta como amigo, destila seu veneno em parcelas pagas com o suor do desespero e veste o véu da inconsciência que me separa de seu mistério. O amigo - que sou eu - é fiel companheiro plebeu. Acompanha-me no deserto, geleiras e montanhas, onde seu espectro que percorre minhas entranhas faz morada nos cantos que desvio o olhar. Sobre ele digo muito, escrevo muito e entendo pouco - talvez seja por isso que me esforço - por lançar o falso olhar que insiste em projetar as terras que desconheço.
Eis o preço.
Ser louco para o outro, o insano desatento que busca em si mesmo o alento de não ser compreendido.
É o olhar direcionado ao próprio umbigo.
É o pisar cego em terreno desconhecido.
No sonho sou ele e, o pensamento que insiste em ser ateu rejeita a metafísica do espelho que sou eu.
Sou seu coadjuvante, pois que no paradoxo inexorável da realidade manifestada a máscara se inverte e toma a cabeça da empreitada de sediar a consciência daquele que se julga justo.
Pústula.
E Fístula.
É o que resta da falsidade quando se encarna a maldade de fingir ser aquilo que não se nasceu.
Há perdão para o falso amigo? Há redenção para quem se perdeu? Suplicam os fantasmas que rondam o pleonasmo do guerreiro que se rendeu.
Levanta a cabeça homem!
Tua carne ainda respira e teu coração - despedaçado - ainda bate tímido em teu peito angustiado!
É difícil respirar quando se sufoca em palavras, ditas ou mantidas. Por isso é melhor deixar para os gemidos a inexpressividade daquilo que não se pode comunicar.
Palavra julga e é julgada, como toda ação no mundo da ilusão, vai e volta ao ponto de partida, onde fica mantida a verdadeira intenção.
Maldição.
É para o bem - sempre o bem - dos filhos rebeldes que não reconhecem seu inimigo, chamam-no amigo, e ao ser traído, caem em grande desolação!
Oh paradoxo, quem o entenderá?
Se pelo sentido não fazes entendido, pela razão confundes em emoção e, quando amor, transforma-se em dor, como aceitar teu destino?
Ajudai-me Mestre, que teu filho enlouquece por pensar demais e esquecer da prece...
O inimigo que sou eu olha o amigo e vira as costas.
O amigo que sou eu não entende o seu irmão, pensa ser outro aquilo que não vê em si.
O inimigo e o amigo somos um, que engana-se o tempo todo ao não perdoar as falhas do irmão.
O tempo há de dizer e redimir os erros que não admito que cometi. Há de trazer à tona todo alimento que não digeri.
Serei digno de compreender o mistério deste signo?
O dragão que me acompanha é forte e não se acanha, cospe fogo e voa baixo, réptil infértil, quer a tudo destruir com sua força a consumir.
Nobre guerreiro ainda não morreu, sua espada ele ergueu, vai montar o guardião do tesouro da criação e compreender o mistério colocado neste símbolo encantado!
Sou guerreiro sou dragão.
Sou filho da criação!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Mãe d'água

A água, o argumento
É o começo, o meio e o fim
Estou nela e ela em mim

Navego no astral
Nas santíssimas águas que
A virgem Mãe fez pra mim

O Sol, pensamento
É o alimento
que fecunda a existência

No Ventre sagrado
Amor imaculado
É a Vossa ciência

Graças dou
Oh! Mãe de amor
Por Vossa criação

Lua branca, Véu de prata
Sois bendita, Sois a Graça
A Luz de mais formosa imensidão

Estás dentro e estás fora
Tudo ama
E tudo aflora

Dá o teu pão
Na exata medida
De minha mão

Teu colo sereno
Abranda o veneno
Que pus-me em mim

Dissolve-me as mágoas
E perdoa minhas falhas
Compreendendo os porquês

Salve, Oh Rainha!
Sois a sorte minha
Em tudo que Deus me fez!

Caminhas comigo
Me dando o conforto
De vossa compaixão

Se acaso eu Vos nego
Perdoai-me a fraqueza
De teimoso dragão

Eu agora sou sim
Um filho teu
Mamãe, Mamãe
Dou Graças a Deus