terça-feira, 13 de novembro de 2012

Da Liberdade (luto)

Está chovendo. Parece-me que o céu combinou com minha alma para entregar o clima perfeito à minha dor. Acabei de chegar em casa, o guarda-chuva quase que me condena ao me livrar das gotas da chuva e deixar a mostra as minhas lágrimas mas, por sorte, o tempo de caminhada foi o suficiente para elas secarem. Só me resta os olhos marejados e o peito dilacerado.
Por que choro? Vou lhe dizer: Choro por todas as vidas que são tiradas todos os dias para que o meu modo de viver me seja assegurado. Choro pela injustiça. Choro pela minha hipocrisia. Estou de luto.
Depois de um final de semana em que fui surpreendido com alguns acontecimentos, me é inevitável prantear.
Injustiça de um lado, guerras do outro, crianças famintas aqui, ameaças de suicídios acolá...
Percebo melhor o sistema falido que sempre detestei, mas também, sempre retroalimentei. Minha vontade é sair de casa, ir morar sozinho no meio do mato, viver de subsistência. Sei que soa ridículo, mas minha alma grita por isso. Mas que adiantaria me isolar? Seria apenas mais uma atitude egoísta.
Fato é que me sinto um lixo, um pedaço de bosta por receber bolsa do governo para participar de um projeto de pesquisa. Que importa? Estudar, crescer, ganhar dinheiro, comprar, vender, educar... Tudo parte de um ciclo infinito de corrida atrás do vento. Nada faz sentido.
Fico imaginando o Mestre antes de começar sua vida pública. Andando devagar pelas ruas de Jerusalém, chorando baixinho, sofrendo calado ao ver o cego pedindo esmolas, ou o órfão roubando uma maçã do mercador mais próximo. Tudo fruto de um mesmo sistema.
Sei que o leitor sente pelo menos um pouco do que também sinto, senão, não estaria lendo esse texto. Sei que o caráter revolucionário e as boas novas fizeram morada em algum canto no coração de cada um de nós. Também sei que vivemos à base do medo. Medo de viver, medo de morrer...
A alma de cada humano grita por liberdade, mesmo que ele próprio não perceba. Mas a liberdade tem um preço: a vida. Sim, para ser livre, é necessário morrer. Não um suicídio, mas uma morte de voluntária entrega. Um morrer ansioso pelo viver.
Não sei que solução dar ao problema apresentado. A mais fácil, seria o utópico anarquismo (que por sinal, alimento uma certa simpatia). Mas como disse um amigo ainda pouco: "A maior e pior censura que um governo pode oferecer ao seu povo, é justamente o livre acesso as informações e a propagação de novas velhas ideias, conceitos e valores. Dê a uma criança um legume e um doce, certamente ela escolherá o doce para sempre." De que adianta propagar de novo essa ideia? Se o povo prefere e sempre preferirá essa doce ilusão que se chama sociedade?
Somos vozes solitárias em um deserto existencial. Mas não consigo calar meu pensamento, sinto-me forçado a continuar clamando...
A paciência, sinto, se esvai. Mas a esperança ainda não. Resiste forte a esse  mundo que não vale o Mundo.

"Arrependei-vos, homens! A hora em que a grande babilônia cairá está próxima!" Assim anunciam os profetas de nosso tempo.



Tenham Paz.

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