quarta-feira, 26 de abril de 2017

Guerreiros inconscientes

Leve uma espada feita com o melhor dos materiais ao melhor ferreiro de toda a Terra, ainda sim, sua língua será mais afiada.

Não se dá uma arma a uma criança. Antes, sobretudo, ensina-se a criança desde cedo a trabalhar e aprimorar suas técnicas a fim de poder usar suas habilidades, quando madura, com sabedoria. Assim deveria ser.
No mundo da inconsciência, armas são usadas como brinquedos e ferem todos os envolvidos no jogo de espelhos.


A palavra pronunciada corta mais que raio lazer, exige responsabilidade e destreza, com o risco de ter um dos membros amputados (na melhor das hipóteses).
Quem com ferro fere com ferro será ferido, quem com a palavra ataca, com a palavra será atacado.
Ponha uma sentinela em vossas bocas, pois o que macula o coração não é o que entra, mas o que sai dele.


Trabalhe, como o melhor dos ferreiros, sua espada, para que quando fores convocados à guerra, não encontre-a gasta e sem cortes. Treine sua mente, que é quem controla e manuseia essa espada.
A verdadeira guerra não é entre os povos, não é entre irmãos. Saibam de que guerra vos falo.
Deixe a Justiça para os Justos, não queiras prová-la com suas próprias mãos ou boca. Seja um servo da Verdade, não um Rei.
Os altos postos da verdadeira hierarquia são destinados a quem os merece, não a quem os deseja. Lute pela causa, mas não queira governá-la, pois a quem muito é dado, muito é requerido e quem diz muito, pouco sabe.


Calo-me perante a Verdade, deixe que ela fale.
E que Deus nos ajude.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Justiça

Justus recebeu seu nome antes mesmo de nascer. Antes, até mesmo, de ser concebido num ventre - sempre sagrado - que sangra as mazelas do mundo. Germinou de fora do tempo na mente eterna do Criador da Verdade. Ao nascer, teve a sorte de contar com o tempo: veio na hora exata, nem antes nem depois, pois sua matriz era certeira. Justiça era seu anjo guardião, injustiça, sua potestade. Encararia o peso da balança cósmica com a graça de quem sabe sua própria medida. Nem mais nem menos, apenas aquilo que é justo, apenas o preço a ser pago sem desperdício. Quando criança, não mentia, quando jovem, sem calúnias. Apenas verdades.
Claro, tudo isso para si mesmo. Sua potestade via-no sempre com maus olhos, chamava-o mentiroso, monstruoso, castigava-lhe com a maior das balanças impossíveis. Ninguém soube dizer se cumpriu sua missão, pois grande era o seu trabalho e de difícil compreensão. Após sua passagem, sua alma, dividida em medidas igualitárias se espalhou pelo mundo, dando a cada um de seus inimigos a justa porção a quem lhes cabia.
De tanto ofendê-lo, tive minha recompensa: sua potestade, que agora, redimida pela sua morte, se apresenta a mim como justiça. Esse era seu trabalho, inconcluso em seu tempo de vida, pois que o próprio tempo, interpretado pela mente humana, é fruto da injustiça. Agora, olhando de cima, vejo-o com as duas mãos estendidas por sobre a humanidade, dando a todos, os da esquerda e os da direita, porções iguais de seu próprio sangue. Conquistara a Balança, por ter pagado o Justo preço por ela. E eu, que de baixo me olho, engano-me constantemente, por sobre a potestade que me foi dada, e desvio-me daquilo que devo pagar. Tolice, o Tempo há de voltar e cobrar, vez ou outra, aquilo que quis manter para mim mesmo.
Lembrai-me, Justus, do Ego que recebi, da túnica de glória que esqueci, ao deixar as mansões de Luz.
Tua Justiça é misericórdia e Teu castigo é Amor, pois até o Tempo, esse Juiz, a Ti está a servir.



Kaô Kabiecilê