quarta-feira, 18 de março de 2020

O lugar do Mestre

  Existe um linha imaginária estabelecida nos reinos onde o pensamento racional passeia cego, que permeia todas as culturas. Muito já se foi dito dela, desde que o homem começou a se relacionar com outros povos e passou a considerar as coincidências. Cada um de nós, nos relacionamos com essa linha. Principalmente brasileiros. Aqui falo da Tradição. O contato que ainda temos com a Fonte.
Dessa Tradição, posso apenas falar pelo meu ponto de vista, até onde ele foi aberto acerca disso.
  Ao meu ponto de vista estão atrelados aquilo que escolho para representar a Fé, minhas opiniões, minha história pessoal, minha experiência. Cada um segue neste Mundo com seu ponto de vista.
 Com isso estabelecido, falarei dos conceitos e dos símbolos, a partir daquilo que eu consegui entender da mistura de culturas as quais me submeti até hoje, devendo o leitor fazer as adaptações necessárias para sua compreensão se assim o quiser.
  A Fé é um fenômeno humano. Uma faculdade. Uma capacidade. Um Dom atrelado a este ser que evolui sob a Terra. A partir dela, o Homem descobriu que pode alterar a realidade. Há aqueles que a negam, mas mesmo esses admitem os efeitos que ela provoca na realidade, principalmente quando ela é conduzida por um líder exaltado. Independente da religião/cultura que se pratique (prefiro falar em cultura, considero um termo mais apropriado), há, a partir dos fenômenos da Fé, alguns aspectos em comum. A Tradição é um desses aspectos. Esta Tradição é acessível a todos, a partir do Mistério Crístico, independente de qual personagem histórico a pessoa considere (se estamos falando de um Mistério Universal, este deve ser manifesto em todas as culturas, basta apenas que enxerguemos, ou melhor, queiramos enxergar). Este Mistério, Universal, é eterno, logo, sempre existiu desde antes da fundação do planeta. Mas como o planeta tem uma origem no espaço-tempo, nele, o Mistério se manifesta desde o seu nascimento. Neste Planeta, ao qual estamos submetidos, recebemos o Dom da Fé, que nos liga diretamente a esse Mistério.
  Mas somos humanos. Nossa natureza é dual, somos bem e mal (lembrando sempre, que a parte de nós que classifica qualquer coisa como boa ou ruim, é nosso ponto de vista). Sendo assim, podemos fazer deste Dom que recebemos, aquilo que bem quisermos, pois para que ele se manifeste é necessária a Liberdade.
  Cristo trouxe a mensagem da Liberdade. Da Verdade da Liberdade. Sua mensagem é um convite à Fonte Eterna, que emana a Luz sagrada da Verdade. Essa Fonte alimenta todas as culturas. Desde Tupiniquins a Chineses. Dentro de cada cultura, alguns se exaltam. Gosto deste termo "adepto exaltado". Estes são aqueles simbolizados pelo vampiro, o nosferatus. Todos as figuras que usamos para representar a divindade, seja ela politeísta ou monoteísta, passa pela imaginação humana. Cada cultura, cada povo, imaginou Deus de uma forma diferente. Alguns consideram deuses, outros apenas um. E em todas elas, há uma ligação com a Fonte. Mas essa ligação está oculta, é necessário que esteja, é natural que esteja.
  Na experiência humana, temos a oportunidade de encontrar um caminho até essa Fonte, Mas há aqueles, que encontrando um caminho, o transformam em verdade, e passam a oferecê-lo aos outros, por um determinado preço, seja ele um dízimo, uma oferta, uma doação, uma energia...
  Ao aprisionar em sua verdade, o vampiro passa a sugar a pessoa, a partir da criação de uma egrégora.
  A Egrégora é o que muitos chamam de igreja, mas ela não é o templo físico. Ela se concentra no templo físico, mas é além dele. Ela atua no inconsciente coletivo, por debaixo dos panos do pensamento, e reflete em atitudes, manifestando no plano físico, a vontade da Fé daquele que a criou e a mantém, o adepto exaltado (Qualquer líder espiritual de qualquer religião que seja). Este ser passa a ser o caminho para aquilo que ele chama de fonte. E o seu séquito, deposita sua Fé naquilo que o homem diz que é para se acreditar.
  Ora, vivemos um período curioso no Brasil. O surto de igrejas neopentecostais e pentecostais expõe essa Verdade de forma nua e crua, basta apenas querer enxergar. O Jesus de muitas igrejas, é o Jesus que o Pastor diz que é. Mas durante a experiência de um culto isso não fica claro, é necessário que se observe muito bem, em vários cultos, para ver. Em uma determinada denominação, os preletores devem seguir a teologia adotada pastor líder, para que as palavras não venham sempre dele, e isso se torne óbvio. Quanto maior o séquito, maior o número de poderes que este adepto confere aos seus menores. Caso algum deles fale algo que contradiga a teologia (ou cosmogonia) aceita, logo é desmentido e até calado de diversas formas. Ele põe em xeque o atual rei. O Pastor que é bom no que faz e sabe o que tá fazendo, é capaz de perceber isso muito rapidamente, e logo cortar aquele que pode ser um vetor de uma sangria maior em seu rebanho. Mas dentro disso, vemos muitas igrejinhas surgindo aqui e ali, dissidentes de outras maiores (certamente, foi um desses casos). O adepto comum que percebe isso ganha a chance de ser ele mesmo, um adepto exaltado, e assim, criar a sua própria egrégora afim de se retroalimentar de sua própria falsa verdade refletida em seu séquito. E o ciclo se inicia novamente.
  Passar por este processo, é parte da jornada humana (ou jornada do herói). É necessário que o buscador se encontre com esse símbolo, seja ele manifesto em uma pessoa ou não, independente da cultura que se pratique. A partir de sua liberdade, quando se consegue perceber a prisão da ilusão, o homem tem a oportunidade de trilhar o caminho da Liberdade em direção à Verdade, ou criar a sua própria verdade e limitar a liberdade de outro. Muitos são os que seguem o caminho mais fácil, já dizia o Cristo.
  Negar a si mesmo é o caminho da Liberdade.
  Se Libertar é mudar de opinião.
 Os falsos mestres estão aí, procurando a quem tragar em sua verdade. Mas existe o verdadeiro Mestre. Este que independe de nome, seja ele Jesus, Irineu, Krishna, Mitra...
  E Ele habita os reinos da Luz e Além.
  Mas para cada Mistério revelado, há a sua corrupção. Para cada Jesus existe um anti-jesus.
  Estes "anti-cristos" é o cristo do adepto exaltado. É o Cristo que ele mesmo criou e acreditou em seu caminho egóico. Também o é, o reino da luz, subvertido por muitos como "Grande Fraternidade Branca" ou Hossalfhaim para os Nórdicos, o Pimeiro Céu de Paulo de Tarso, ou Soma Chackra (logo acima de ajna (olho de shiva) que é onde opera a egrégora do adepto exaltado, onde se dá todo o processo descrito acima). Esses reinos são também faculdades humanas, pois somos imagem e semelhança de Deus. Logo, o Ragnarok e o Apocalipse acontece também dentro de nós.
  E este é o momento em que se percebe tudo isso. O Apocalipse, A Grande Revelação. Quando o ser percebe a ilusão provocada pelo seu próprio projetor, o olho que tudo vê, localizado entre as sobrancelhas, para isso é necessária a humildade para se mudar de opinião.
  A figura do Mestre, enquanto se está sob o domínio da ilusão, aparece como o que se quer ver, fazendo com que se acredite cada vez mais em sua própria mentira. Aquele que se projeta de volta para a pessoa como verdade, é o Guardião da Verdadeira Verdade e confunde aquele que ainda não se libertou de si mesmo. Quando a provação vier, é este Guardião que irá incinerar tudo aquilo que o homem achava que era verdade, e se ele se agarrar a essa verdade, perecerá junto dela. Esse é o julgamento pelo fogo, descrito no Apocalipse de João. Se o homem abrir mão de sua verdade, e reconhecer que nada sabe, é dado a ele a oportunidade de seguir seu caminho até a Luz, lembrando sempre de não cair novamente na tentação de achar que encontrou a verdade e dela fazer posse.
  Neste momento, é revelado outro Mestre, agora sem nomes, sem faces e sem rótulos. O Mestre da Liberdade, aquele que fala através de qualquer coisa e de qualquer um, bastando apenas que estejamos atentos à Sua Voz, sem o confundirmos com aquilo que queremos ouvir.
A partir daí, tem-se um canal direto com a Fonte. Esse canal pode se manifestar a qualquer momento (e creio que na verdade ele se manifesta o tempo todo, nós é que somos surdos mesmo).
Esse é o Lugar do Mestre. É daqui que Ele fala.
  Um detalhe, o verdadeiro Mestre não nega a ciência, muito pelo contrário. Ele estimula os homens a estudá-la, a aumentá-la, pondo Ele mesmo a prova. Pois se a Verdade é Universal, ela pode ser confrontada com o que for, ela resistirá. Se não resistir, é porque era apenas uma verdade exaltada.
  Ponde Deus à prova! Ainda estamos no caminho para conhecer Ele, e temos nosso pensamento racional para nos servir, temos nossa ciência para testar tudo aquilo que achamos que é verdade. Não devemos, entretanto, pôr a própria ciência no lugar do Mestre, pois assim, estaremos criando um rótulo pra ele, ficando apenas confinados numa outra egrégora, agora "científica" mas que existe justamente pela faculdade humana chamada Fé. Não se tem Fé na ciência, mas se usa a ciência para por a Fé em teste através de um método, que nunca será infalível. A ciência humana têm limitações em seus métodos, limitações que vão se ampliando, a medida que o Homem chega mais perto de Deus.

  Agora, com o Mestre em seu devido lugar, o homem segue seu caminho livre de imagens criadas pela sua própria mente, alimentadas ou não, pela mente de outro.



Saibam de que Mestre falo.

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