terça-feira, 16 de outubro de 2012

Fora do contexto

"Texto fora do contexto é pretexto!" Dizia minha mãe sempre defendendo alguma interpretação canônica de algum texto sagrado. Mal sabia ela, que por trás dessa afirmativa esconde uma intenção mais antiga que nosso mundo moderno. Querer defender um cânon, é o objetivo principal de todo 'defensor da fé', é o princípio básico da inquisição, seja ela católica, protestante, muçulmana, judaica, etc. Convenhamos, desses estamos fartos. Esses mesmos defensores, geralmente defendem que só há um deus, e que a idolatria deve ser banida e extirpada de sua comunidade religiosa. O que não percebem, é que com sua pretensa santidade e seriedade para com o texto "sagrado", criam a mais poderosa e sutil forma de idolatria que se tem notícia: A Idolatria ao Texto, a Letra.
O irônico disso tudo, é que a própria escritura já nos advertia sobre o poder da Letra¹. Quem detém o poder do Cânon, controla o mundo². Não me parece à toa que o próprio Cristo usou a metáfora da semente para se referir a Palavra. Para uma semente germinar, ela precisa morrer, só então, poderá gerar  uma nova árvore, e posteriormente uma nova semente. Assim é a Palavra: só depois que sua casca literária desaparecer, é que sua essência fica exposta para assim, poder gerar vida. A Literalidade Bíblica é uma falácia³.
Dizer que um texto fora de seu contexto é um pretexto não é de todo uma mentira. A questão é, quem poderá compreender todo o contexto de um texto? Seja ele, sagrado ou não? Quem, em sua soberania espiritual, poderá dizer o que se passava na cabeça de quem escreveu? É bem verdade que a vaidade humana se encarrega de interpretar os fatos de acordo com a sua conveniência. Não é a toa, que Salomão disse que "Tudo é Vaidade". Isso tudo, sem sequer citar os erros de tradução!
Tudo é apenas conjecturas, ninguém detém a verdade. O Espírito sopra onde quer, como quer...
Querer defender a fé é, no mínimo, ridículo. Fé não precisa de defesa, ela é ataque: um ataque a si mesmo, nunca aos outros.
Afinal, todos somos de alguma forma, um texto. Uns se canonizam, se conformam, e se tornam membros. Outros, onde o espírito habitante é livre, são marginalizados: são textos fora de contextos...
Se somos pretextos, que sejamos não apenas para reformas, onde o velho é pintado por fora apenas para enganar os desavisados, mas para revoluções: onde tudo se faz novo.



Notas:
¹ "O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica."  2 Coríntios 3:6
² Um belo exemplo disso é o filme "O Livro de Eli", onde o vilão persegue o detentor da bíblia a fim de ter o poder de controlar o mundo, e o perseguido, utiliza-se de uma pretensa revelação para justificar seus atos de violência em nome da defesa. Ambos, lados de uma mesma moeda.
³ Disse José Barbosa Jr. neste texto que me inspirou a escrever este.




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