quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cordão de três pontas

Na simetria a dois
Há espaço de sobra
Um com outro é três
E ainda que não haja freguês
Vendem-se amor cortês

 Ah, quem dirá dos muitos amantes
Que outrora não foram tais?
Como cais sem porto
Embarcações sem âncora
Que ao léu foram parar

 Não dirá, porventura
Que entre tantas aventuras
Não souberam aproveitar?

 É como dizem os boêmios:
Ainda há peixes a nadar
Sois barquinhos pequeninos
Perdidos a navegar

 Das muitas peripécias
Tireis aquilo que bastar
Não fiqueis na inércia
Que ainda há mar a desbravar

 Espero pois que saibas a casa retornar...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sobre a missão

De repente tudo faz sentido. O porque de sonhar sempre com a mesma coisa. Ou aquela conversa tida a 3 anos e da qual só resta o eco das ideias debatidas. Num momento singular, onde as perguntas são respondidas, ou nem tanto assim, mas que pelo menos a sensação faminta de "ter uma missão no mundo" é de certa forma, saciada. Passos retilíneos refletem uma mente em sinergia. É a alma gritando surda pra si mesma "achamos!". Isso acontece algumas vezes na vida de uma pessoa. Cabe a ela saber perceber essas faíscas de genialidade interior. O ponto na existência de onde se percebe o todo, ou pelo menos, um lampejo do todo. É o suficiente. Todo calor começa em um átomo, assim como toda fogueira começa em uma brasa. De repente, tudo se junta. Ou melhor, de repente percebemos que está tudo ali e a separação não passava de uma ilusão.
Encontrar o todo em uma singularidade.
A fé num grão de mostarda.
O universo num grão de areia.
O todo no um e o um no todo.
A vida e a morte.
Deus.

Aqueles canarinhos

Era aquela junção de tanta gente, assim, no sangue mesmo. Todos tinham aspectos em comum - nos jeitos, trejeitos, desejos...
Era quase que belo, se não insistissem em esconder isso.
Minto. A beleza era-lhes inegável! Mais do que percebê-los, era sê-los. Quem era nasceu na dança, não precisava pedir permissão para entrar!
Éramos.
E por mais que insistissem em nos fazer de tolos, ríamos por último a gargalhada concentrada das ironias da vida.
Brasileiros.
Era disso que nos chamavam. Éramos mais que isso também. Não pelo sentimento à pátria, forte, impávida, colossal. Mas por carregar na pele, olhos, bocas, cabelos e coração as virtudes e desafios do mundo todo, escondidos nas entrelinhas de um dna mestiço. Sendo estandartes vivos de uma tropa que ainda insiste em ocupar o mundo inteiro, ainda que sem guerras.
Entretanto, não nos entendíamos. Não sabíamos o que éramos. Meio que órfãos, sem uma árvore genealógica bem definida.
Adolescentes.
Teimosos e pirracentos.
Brigas infantis e preconceitos estúpidos...
Mas acima de tudo, imprevisíveis.
E imprevisibilidade é aquilo que pincela a beleza e extrai da admiração o gosto do novo.
O bom novo.
A boa nova.
A união.
Éramos tudo isso.
E mais um pouco...

Imanências

O sorriso fosco de um diamante oco.
O disfarce tosco de um homem frouxo.
O caminho torto de uma jornada nova.
A vinda de um norte.
Há vida na morte.

Aos Amigos...

Uma pinta de ponto no outro
O abraço, singelo, afetuoso
De pedros, pedras, pulos
É feito pão e água
Irmão de alma
Básico
Indispensável
Panelas velhas pipocando parcerias
É o próximo, lógico, em amor
Doar-se inteiros em metades
Preencher vazios por vontades
Almas gêmeas siamesas
Que de dois tiram proezas
E quanto mais se põe à mesa
Somando tudo têm-se a beleza.