sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A semente do credo que brota nas profundezas da floresta

Quando estiquei meus galhos ao encontro do Sol
E pela copa subi devagar
Desabrochando em verdes ares
O que da flora pude contar

Era meu velho índio amigo
Quer seja ele ou eu
Ou o que o Espírito me deu
Na natureza não adianta buscar sentido
Nem tentar entender agora o que digo
Pois vem da floresta o caminho que sigo

E por dentre as matas sagradas
Onde os brancos reluzem espadas
Orgulhosos do sangue que escorrem
Brota-me o decreto de um credo

Que agora venho dizer e afirmar
Onde quer que exista Terra, água ou ar
O fogo sagrado vem animar
Tudo que existe e sempre existiu
É expressão natural do Amar
Seja árvore, índio, branco ou estelar

Na floresta se encerra o mistério do Império
Que a todos convoca
Me reúno com o Uno
No meio de uma Oca

Sou branco, índio, árvore e o mar
Sou a Terra, o Sol, a Lua e as Estrelas
Sou o que vejo e o que percebo
E ainda aquilo que não concebo
A Eternidade num momento
E nos limites do Tempo, sem medo

Expandindo pra dentro e pra fora
Respirando o ar que revigora
Sou o orvalho que a noite chora
E também sou o alvorecer de uma nova Aurora!

No meio do mato
No fundo do mar
Tudo ao Pai retorna o Ato
Pois Tudo a Todos Ele dá!
A quem se destina a seguir seus caminhos
E a todos seres resolve por amar.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Do Rei Tiago

Em vão gloria-se o vangloriador
Como quem se olha no espelho, se admira e logo esquece sua fisionomia
Assim é o que pratica sem obras sua fé
É um corpo sem espírito
O que condena o grito
Com a paixão de um blasfemador
Aprender a humildade do silêncio é a firmeza
E a certeza
De que suas obras refletem a pureza
Do coração que Ama
A chama arde sem queimar
A sarça queima sem arder
O mistério do ser sem parecer
Está contido em inexprimível gemido
Gerado no interior do alvorecer
A língua afiada é a lâmina da maldade
E corta, sem piedade, na ida e na vinda,
No objeto e no sujeito,
O que de alvo fez sua vaidade
Insuportável Verdade
Para toda e qualquer má obra praticada
Que no fogo será purificada
E perderá o valor que nunca possuiu
Pois o Ouro Celeste é pra quem do Amor não desistiu
E bravamente lutou
Contra Si mesmo
Para dar ao irmão, sempre
O Seu devido Valor.


Tiago, caps 2, 3, 4 e 5.


terça-feira, 1 de agosto de 2017

Breve parto que aborto

Piso no calo e não me calo
O veneno que destilo é a palavra que falo
E de falos estou farto
Quando o dragão na mente eu parto
Com dores e sangue de quem nasce torto
É o peso morto que carrego no dorso
E em vão me apego com esforço
A hora de abrir mão já chegou
Chegou, passou e cá estou
Não que me agarre ao que está morto
Mas o mistério dos ciclos revisita as imagens
E dessas miragens relembra a casca da ferida aberta
Que é pra me manter alerta
Que se cutuco com vara curta
E exponho a cicatriz
É minha paz que ela furta
E a calma me escapa por um triz
Difícil é aprender o orgulhoso
Que tudo já sabe pomposo
Só não sabe a humildade do vazio
Que preenche por não achar que se é
E apenas sabe sem achar
Tendo a plena certeza da fé
Esvazio esse mal que ressuscito
Breve, em palavras escrito
Antes que cresça e me atormente
Sacrifico este bicho torto em minha mente.