domingo, 24 de março de 2013

22

Os amigos vem e vão
Os amores também

As lembranças vem e ficam
Fazem morada na alma
Abraça a tristeza e a alegria
E ceia junto a elas

O dinheiro vem e vai
A paciência também

A vontade sempre esteve aqui
E à vida, dá sua força
Com fé e esperança
Caminhando junto a elas

Todas essas coisas vem e vão
Mas há sempre uns poucos e bons

Esses poucos, raros, fazem bater mais forte o coração
E com "surpresas" (porque no fundo a gente sempre sabe)
Nos surpreendem com carinho e atenção

O tempo revela quem são
E, mesmo que ele passe
E eu não lembre depois
Sei lá no fundo que amigos tive
Lá pelos meus vinte e dois!

Obrigado pela existência de vocês!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Pormenores

São 23:05. Caminho em direção ao ponto de ônibus, quando me dá uma vontade de tomar um refrigerante. Verifico as moedas existentes no bolso, está a conta: 2,50 a latinha. Passo direto do ponto para o barzinho mais próximo - sabia que o ônibus ia demorar mais uns 20 minutos. O barzinho é pequeno, seus poucos fregueses, uns bêbados assistindo futebol, mas apesar de tudo, um buteco com o refrigerante que eu queria. Pergunto pro tio do bar, se tem refrigerante. Ele me responde que sim. Pergunto o preço para me assegurar de que vou poder pagar, e peço uma latinha de refri. O tio vai buscar a lata e, ao voltar, faz algo que eu não esperaria nunca de um lugar daqueles.
O tio lavou a lata. Com esponja e detergente. Ao pegar a lata e agradecer, ele ainda me perguntou:
- Aceita canudo?


Mais uma das evidências de que o exemplo vem de baixo, dos pormenores do caminho.

terça-feira, 19 de março de 2013

Os dois Gigantes (2)

Certa vez, como esta bem guardado na memória dos gigantes, houve uma coisa extraordinária. Não sabem dizer em que ponto do caminho tinha acontecido - deve ter sido naquele que liga o começo ao final - a única coisa que sabiam, era o que tinha ficado na memória.

O enorme baú que eles carregam, abriu com um estalo enorme, parecia um trovão. Conta-se que nesse dia, alguns mortos voltaram pra vida, e o caos se estabeleceu por um curto período de tempo, pois os dois irmãos caíram e largaram o baú. Após retornaram a si, levantaram e viram que o baú estava novamente fechado. Mas agora, estava lacrado com um cadeado de ouro. E a ordem voltou a reinar.
Por algum motivo, os gigantes sabem que o baú se abrirá de novo, mas dessa vez, não ficará no caos, as coisas simplesmente terão outra razão de existência, e o que conhecíamos como dor e morte, não mais terão motivo para existir e se transformarão em alegria e vida.
Mas Násser, de nada sabia, e continuava seu caminho.

Obrigado

Não me peça pra entender. Não me peça pra escolher. Não use o nome de Deus para me confortar, se é de um abraço quente no coração que eu preciso e quem era para oferecê-lo não está mais aqui. Não é pra ser entendido nem explicado. A única coisa a se fazer é aceitar que não somos donos de nada e não controlamos o barco da vida. Estamos todos tentando sobreviver ao naufrágio da alma. Quando naufragamos nessa terra, foi nos dado a força de vontade de viver, apenas. Sabemos que nenhuma de nós sairá diferente. E isso nos conforta, porque também sabemos que, algum dia, de alguma forma, estaremos todos juntos, celebrando a vida em outro plano.
Por isso, não use o nome dEle. Seja Ele para mim, é o que peço. A solidão que alcança todos os cantos da minha alma só pode ser preenchida com a luz que emana de cada um. O buraco não vai fechar, mas talvez, seja possível construir uma ponte por cima dele, uma ponte de memória, que servira para guiar os meus passos daqui pra frente.
Obrigado a todos que deram suas vidas, para que pudéssemos encontrar a nossa.

Petrópolis, 19 de março de 2013.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Tem dias...

Sabe aquela sensação de tristeza sem motivo que surge do nada? Tem dias que ela aparece maior, mais forte e, logo depois, vai embora, se esconde. Mas há outros, em que ela parece ter sumido, aí basta uma centelha que ela volta! Alguns podem até negar sua existência, mas eu tenho quase certeza de que todos a conhecem,só não sabem explicá-la.
Fato é, que ela nos força a ser humanos. Ela nos tira do pedestal da arrogância de achar que somos donos de alguma coisa, que comandamos nossa vida como bem quisermos. É graças a ela,  que ainda não ultrapassamos a linha divisória, que ainda não nos tornamos super-humanos.  Mas também é graças a ela, que somos passível de salvação. Ela nos coloca de frente para o espelho da alma. E nos vemos, nus e crus, como viemos ao mundo.
Mas tem dias que não queremos saber dela e, com o passar do tempo, até aprendemos a controlá-la. Sabe o que acontece? Deixamos de ser humanos. Matamos a sensibilidade à dor do próximo, porque não mais sentimos a nossa. Isso é perigoso. Dizem que quem consegue fazer isso, vende a alma ao diabo, mesmo que não saiba.
Tem dias que eu a sinto, aqui dentro, e dói. Não sei discernir a causa de seu aparecimento, mas a sinto. Acho que se fosse buscar em toda profundidade da minha alma, descobriria que ela nasceu junto comigo, agarrada ao meu tornozelo, como um Jacó invejoso da minha alegria. Ela não deve ser morta, mas também não deve ser a dona de mim. Só rezo pra que me seja dada a graça de acordar feliz amanhã.


Tem dias que a gente acorda tão bem...

Mas hoje não é esse dia.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O poder da dissimulação/simulação - uma história de figueiras


Dissimular é uma arte. Acho que até mais difícil de se dominar do que a Simulação. Nesta, você deve aprender a fingir uma coisa que não é, na outra, deve aprender a esconder aquilo que é. Ambas podem ser usadas positiva ou negativamente, tudo depende da intenção de quem as pratica. Posso citar vários exemplos para isso, mas vou apenas me concentrar na dissimulação.
Todos pensam mal dela, afinal, é uma arte bem conhecida das víboras e raposas. Concordo. Uma pessoa dissimulada é aquela que consegue fingir sua real intenção e enganar os que estão a sua volta. Essa é a faceta má da dissimulação, e é utilizada com maestria por políticos, líderes religiosos, mídia, etc.

Na verdade, o conceito de dissimulação está um pouco distorcido e é facilmente confundido com a simulação. Até no dicionário da língua portuguesa encontramos essa falácia.
"O que é uma pessoa dissimulada?" - Alguém perguntou. 
"É uma pessoa que se finge de inocente para se dar bem" - Responderam.
Ora, esse exemplo é o de uma pessoa simulada, e não dissimulada! Ela finge ser algo que não é, isso é uma simulação! A dissimulação esconde aquilo que é, sem mostrar algo a mais!
Ok, concordo que ficou confuso. Vamos aos exemplos!
Líderes Religiosos! Como gosto de falar deles! rs
São "raça de víboras", "hipócritas", "filhos da perdição" - Palavras do próprio Cristo, que eles dizem seguir!
Todos pensam que eles são dissimulados. Concordo, mas não apenas isso! Se fosse só a dissimulação, até que tava bom, mas os caras dominam a arte da simulação. Fingem algo que não são, prometem o que não comprem, etc. Ou seja, te vendem o peixe estragado deles te convencendo de que está bom.
Como gosto de usar exemplos do próprio Cristo, vou continuar com esse: O da figueira seca.

Essa passagem, muito conhecida, retrata uma situação que a princípio, parece ser contraditória com a pessoa de Jesus. Ao encontrar uma figueira, cheia de folhas, Jesus percebe que ela não tem frutos e a amaldiçoa. Ora, Cristo amaldiçoando só porque a figueira não dá frutos? Vamos aos detalhes:
- A época que isso aconteceu, não era época de frutos.
- A figueira é uma árvore que fica 'pelada' fora da época de frutificação.

- A figueira em questão, estava coberta de folhas, mas não tinha frutos.
O que a figueira em questão estava fazendo ao se cobrir de folhas, mas sem frutos? Estava SIMULANDO algo que não tinha. Por isso Cristo a amaldiçoou. As outras figueiras eram 'humildes' e estavam secas, reconhecendo sua época de não-frutificação.

Outro exemplo:
"Aquele que se humilhar será exaltado" - Disse Jesus. Esse é o que dissimula. Aquele que mesmo sendo alguma coisa, se rebaixa, se humilha, ao contrário da figueira amaldiçoada.

Foi só uma breve reflexão sobre essa arte muito explorada nos dias de hoje. Não simule. Não finja. Não diga que faz, se não faz. Antes, se rebaixe e, mesmo sabendo alguma coisa que prejudique alguém, cale a boca. Aprenda a arte da dissimulação.

Dissimule. Ninguém quer saber o que você não é.

Da série paralelos: formas diferentes de se dizer a mesma coisa.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Os gêmeos do caminho

Andava a muito tempo, não sabia dizer. Afinal, noção de tempo era uma das coisas que perdera quando começou a viagem. Em passos vagarosos, refletia na última lição aprendida. "Estamos no caminho, mas não somos dono dele", disse-lhe o velho em uma casinha na beira da estrada. De súbito, ocorreu-lhe a resposta ao enigma: "Estamos mas não possuímos, porque fazemos parte! Eu faço parte do caminho!". Agora tudo fazia mais sentido, e a neblina da ignorância começava a se dissipar em sua pequena mente.
Foi pensando nessas coisas que viu, ao longe, uma silhueta diferente. Não sabia dizer se era uma ou duas pessoas. Vinham na direção oposta da estrada e estavam correndo - pelo menos era o que parecia. Mas demoravam a se aproximar, apesar de seus pés correrem rápido. O viajante ficou espantado com aquele ser, ou seres, que apareciam a sua frente. Eram dois gigantes, e carregavam um imenso baú, um de cada lado. Tinham uma aparência jovem, apesar do tamanho de suas barbas. Mas o que mais impressionava, eram suas roupas e seus pés. Estavam vestidos, um de preto, outro de branco, mas as cores trocavam de lugar. Ora um era o de preto, ora o de branco, num ritmo descompassado. Como eram gêmeos, o viajante não sabia dizer se eles trocavam de lugar, ou somente as roupas que trocavam de cor numa velocidade quase imperceptível.
Os pés, eram ligeiros, e fazia parecer que estavam correndo, mas não avançavam. Era quase ridículo ver dois gigantes correndo sem sair do lugar. O viajante resolveu perguntar quem eram e, assim, deu-se início a mais um aprendizado.

 - Olá, simpáticos gigantes! Não pude deixar de reparar em vocês andando por essas estradas, posso me apresentar?
- Ele está vendo nós dois ao mesmo tempo? - perguntou o da esquerda ao irmão.
- Parece que sim! Finalmente encontramos alguém de bom-senso nessa estrada! - Respondeu o da direta.
- Por favor, senhor viajante, apresente-se a nós, que nos apresentaremos com prazer! - Disse-lhe o primeiro.
- Chamo-me Násser, estou viajando por esse caminho a algum tempo, e tenho encontrado muita sabedoria e beleza por onde quer que passo! Seria muito interessante conhecer um pouco sobre vocês!
- E ainda é simpático! - Exclamou um deles.
- Pois não, como podemos nos apresentar a você? - Disse o que agora estava de preto.
- Olha, temos muitos nomes, e nos apresentamos de acordo com a pessoa a quem dos dirigimos. - Disse o de branco.
- Pela sua língua e sotaque, diria que és brasileiro, e pelas suas vestes, um homem do século XXI, estou certo?
- Certíssimo! - respondeu Násser impressionado pela exatidão dos dados.
- Prazer Násser, meu nome é Destino! - Disse o da esquerda.
- E eu, o Acaso! - Disse o outro.

"Destino e Acaso! E são gêmeos! Quem diria!" pensou Násser.
Tinha que andar vagarosamente para trás, acompanhado o ritmo dos gigantes, que não paravam de correr. No princípio, achou que era falta de educação, mas depois percebeu que a corrida era involuntária.

- Prazer, Acaso e Destino! Poderia perguntar o que carregam nesse baú?
- Nesse baú? Ora, não sabemos!
- Apenas carregamos, sempre carregamos. - Respondeu-lhe os irmãos.
- Sempre?
- É, sempre! Desde onde nossa memória alcança! E olha que ela alcança muito longe!
- Desculpe-nos se estamos fazendo você recuar para falar conosco, é que não conseguimos parar de correr, não podemos!
- Sem problemas - Disse Násser - Mas porque vocês correm, se quase não saem do lugar?
- Não é que não saímos do lugar, você que não percebe o quanto já andamos. É uma questão de perspectiva!
- Exatamente! É como a Terra, ela se move a muitos Km por hora, mas você quase não percebe, porque você está nela!

De súbito, Násser lembrou de sua última lição. "Estamos no caminho!" E vendo os gigantes agora, entendia perfeitamente o que eles estavam falando e, a cada instante, se sentia menor perante o mundo que se estendia a sua frente.

- Que interessante! - Já estava se habituando com o troca-troca de cores.
- Interessante é você enxergar nós dois! - Disse o Acaso.
- É! A maioria só vê um de nós e acha que está vendo tudo! São bem prepotentes, sabe? - Desabafou Destino.
- Como pode ver, somos irmãos, e nada nos deixa mais irritado do que ser confundido um com o outro! - "Na verdade, é quase impossível não confundir!" Pensou Násser.
- Sempre tomam a parte pelo todo. Sempre acham que o Destino ou o Acaso são coisas diferentes, não percebem que somos gêmeos!
- Por isso trocamos de roupa o tempo todo. Que é pra ver se alguém percebe a semelhança entre nós.

Mal sabiam eles, que ao fazer isso, pioravam a situação, pois quem via apenas um deles, nunca poderia ser forçado a ver os dois, isso é algo que se aprende sozinho, cada um em seu próprio caminho. Ao trocar a roupa, garantiam que apenas um deles, ora levava o crédito, ora era desacreditado.

- Caro viajante, se nos permite lhe dar um conselho, nunca, mas nunca transforme a parte pelo todo! Faça isso apenas nas letras! Isso é um pecado gravíssimo! - Disse Destino.
- Gravíssimo!!!!! - Enfatizou Acaso com um tom de voz que parecia tirado de um filme de suspense.
- Sim senhores! Anotarei este conselho! - Aceitou de bom grado, Násser, que adorava conselhos e lições dos desconhecidos do caminho.
- Se nos permite, Násser, não queremos te atrapalhar em sua caminhada!
- Tens ainda uma longa distância a percorrer!
- Sem problemas, amigos! Foi um grande prazer conhecer vocês!

E com apertos de mãos, se despediu dos simpáticos gigantes que corriam e quase não saiam do lugar. Ao olhar para trás, para ver uma última vez os gigantes, percebeu que o preto e o branco se misturavam em um círculo, o que o fez lembrar de um antigo símbolo oriental que conhecera antes de iniciar a viajem. Passado algum tempo, percebeu algo estranho. Ao andar vagarosamente para trás junto com os irmãos, Násser avançara muito em seu caminho. Por algum motivo, a estrada pareceu andar pra trás, mais rápido que ele. E ao perceber isso, se lembrou de anotar em seu diário de bordo o novo conselho. Mas dessa vez, queria escrever de um jeito diferente, assim como diferentes eram os que o aconselharam. E rabiscou um poema que começava mais ou menos assim:

"Sinédoque..."

Sinédoque

Existe pecado maior
Que reduzir as coisas?
Diminuí-las
E portanto, fazê-las pior?

Oh, figura amaldiçoada
Se ficasse apenas nas letras
Terias tua bênção garantida
Mas metida que só tu,
Quis o mundo inteiro!

Contaminou o conhecimento
Cauterizou a sabedoria
Engessou o verdadeiro progresso
Com teu cimento perverso!

Quem te usa mal sabe de teu poder
Abusa da sorte,
E da morte
Faz teu querer!

Qual pecado maior,
Se é que existe medida,
Se não o teu?

Que de um todo reduz a metades
E da metade chama de todo
E a todos transforma em tolos
Ao acreditar em meias-verdades!